Polirritmia

Polirritmia. Caráter ou qualidade de polirrítmico. Poli + ritmo + ia. Em sílabas po-lir-rit-mi-a. Daquilo que pode ter ritmo muito variado, que reúne muitos ritmos. Do que talvez remeta a barulho, polifonias, plurivocais, alguns sinônimos nem tão próximos assim.

Polirritmia também é o nome dessas trocas mensais que vamos chamar de Coluna aqui na Rádio Function.

A Polirritmia é escrita por Gabriel e Steffane, que são dois amiges que compartilham entre si fritações acerca da própria existência e também das coisas fúteis e gostosas dessa vida.

Gabriel é antes de tudo um curioso. Nascido em Itaperuna, Rio de Janeiro, é pesquisador de profissão, pois foi esse o caminho que achou para se sustentar sendo curioso. E que só recentemente percebeu que sua mais antiga e profunda pesquisa é pelas ondas da música, especialmente todas as coisas que envolvem sintetizadores.

Steffane é nascida no norte de Minas e criada na região metropolitana de Belo Horizonte, mais especificamente em Santa Luzia. Escreve e pesquisa sobre as culturas negras diaspóricas em movimento – sobretudo imersa nas pessoas que as fazem acontecer.

Nós somos atravessades por muita coisa, com muito barulho, sonoridade e cores que vão nos interpelando enquanto corpos no mundo. E é no intuito de caminhar para além das longas conversas que só existem entre nós que decidimos tornar pública essas conversas através de textos mensais com a fritação da vez.

A Polirritmia se desdobra como um espaço de interlocução e atravessamento, onde as experiências, subjetividades e perspectivas desses corpos racializados e genderizados ressoam em diálogo com a pulsação da capital mineira e seus desdobramentos. Através dessa tessitura coletiva, a coluna se propõe a escavar narrativas, e revisitart um pensamento negro insurgente que faz barulho e está em contínua reinvenção.

O nome que escolhemos para essa coluna veio inspirado pelo podcast Projeto Querino produzido pela Rádio Novelo e com idealização, coordenação, pesquisa e apresentação do jornalista Tiago Rogero. O terceiro episódio da série que reconta de forma afrocentrada a história brasileira se debruça sobre a contribuição negra na música mundial. Intitulado Chove Chuva, o episódio aponta como as sonoridades e padrões rítmicos africanos são basilares nos “gêneros brasileiros”, notadamente do mais famoso deles: o samba.

Só Com A Ajuda Do Santo (Radio Edit)

Portela 2023 | Esquenta da Bateria – Ensaio Técnico | Samba ao vivo – #ET23

Polirritmia é quando uma música sobrepõe diferentes tempos. Como dito por Rogero: “A polirritmia tá na origem de um tanto de gênero musical não só no Brasil, mas em outros países que também receberam africanos escravizados”, A polirritmia pode ser vista, para além do samba, na salsa, na rumba, na cumbia e também em ritmos mais recentes com origem nesses como o funk brasileiro e o reggaeton. A polirritmia é uma fenômeno musical que se espalhou pela américa latina, e o mundo, através de pessoas africanas escravizadas e descendentes.

A polirritmia é um conjunto de barulhos que, inicialmente não fazem muito sentido juntos, mas que quando colados formam uma mistura rítmica singular e completa. Nossa ideia aqui é explorar esses barulhos que são muito mais do que parecem ser a primeira escuta.

Então, mensalmente a partir de junho a gente se encontra aqui na Function – conversando sobre musicalidade, barulho, falando do que a gente está ouvindo ou deixou de ouvir, do que a gente viu e reprovou, do que a gente viu e gostou e do que demos a chance de reassistir para reavaliar e que continuou fadado ao desgosto, do que remete há um passado bonito ou do que segue fazendo sentido depois de tanto ou depois de algumas escutas.

A musicalidade é marcada por muita referência – tudo bem multilocalizado – como tem de ser. E é nesse tipo de onda que nós vamos viajar por aqui.

Assim, aqui é uma reunião de expurgo também – talvez a gente esteja cansade de falar só um na cabeça do outro – esse momento de certo ia chegar.

Entre tantas ladeiras da capital mineira, a gente segue conversando sobre o que ouve e daquilo que sabe de onde vem.

Bem, sem mais delongas, até mês que vem.

Jorge Ben – Chove Chuva (Áudio Oficial)

Por Steffane Santos e Gabriel Nunes