FORA DO EIXO: GABRIEL ARAGÃO ENTREVISTA MAUMAU
Written by Function FM on março 19, 2024
Q1 – Gabriel: Você se lembra quando começou a produzir música (eletrônica)? E como foi essa experiência para você?
Mombin: Lembro sim, meu pai era dj e usava o Virtual DJ (VDJ) quando eu tinha por volta de 13 anos, desde então comecei a fuçar o VDJ para fazer mashups e então fui entendendo conceitos como sincronia, tom das músicas, as possibilidades de misturar a voz de uma música com bateria de outra música. Ou seja, meu início foi com as práticas de DJ e ,
após um certo tempo, fiquei saturado desse processo que envolve utilizar produções musicais de outras pessoas e em seguida passei a explorar programas de produção como Ableton e FL Studio.
Q2 – Gabriel: Você tem uma influência familiar nas suas produções?
Sim, meu pai tinha uma banda de rock mas na verdade fui eu quem me aproximei e me aprofundei com as práticas de criação de música eletrônica.
Q3 – Gabriel: Nessa época do início, quais eram suas referências musicais e de produção, não somente na eletrônica?
Mombin: Minha maior influência musical da vida são os videogames, essa mídia foi o que me fez ter contato com músicas, especialmente músicas de fora do Brasil, através de jogos de ação e de ‘arcade’. Até hoje valorizo bastante a produção de jogos onde o cuidado com a curadoria musical e trilhas são evidentes, sendo que jogos em que não há um desenho de som bem feito geralmente não me interesso. Além de produzir música, hoje também sou DJ de acid techno e não é possível deixar de fora a influência de filmes como ‘Matrix’ e ‘Blade’ para o meu processo, suas sonoridades e estilo ‘punk moderno’ me influenciam até hoje.
Q4 – Gabriel: Então após falar de videogame, filmes e origens das suas influências, qual é o papel de outras pessoas e da coletividade nas suas produções?
Mombin: No meio artístico acabam mobilizando uma ajuda entre as pessoas, em especial em Aracaju, mas nas produções musicais fui ‘lobo solitário’ e fazia produção só por mim sem envolver várias pessoas produzindo a música. Até que surgiu o Edital da lei Aldir Blanc em Sergipe que possibilitou desenvolver e produzir o álbum ‘Bruxa Cangaceira’ de Isis Broken. Assim, surgiu uma oportunidade: ao invés de investir todo o recursos disponibilizado pelo edital para compra de equipamentos pessoais, pude trazer mais pessoas para uma construção musical (direção, mixagem, masterização) e foi quando tive contato com Adam Viana e Fabrício Rossini. A presença de mais ouvintes nas minhas produções se provaram muito importantes e até então nunca tive essa experiência completa onde um time de pessoas se dedica em conjunto à construção de um único projeto, antes tudo era produzido por mim e agora posso me dedicar com exclusividade à síntese sonora.
Q6 – Gabriel: Aproveitando que você já mencionou uma das suas produções (Bruxa Cangaceira – Isis Broken), gostaria de saber um pouco sobre outro projeto seu o álbum Dubaju que faz referência direta à cidade de Aracaju. Sendo assim, qual a relação do estado de Sergipe com a sua música?
Mombin: Sim, na verdade o álbum Dubaju vem antes da criação do ‘Bruxa Cangaceira’ com Isis Broken e, apesar de eu citar o álbum de Isis Broken como exemplo de criação coletiva, o Dubaju foi um álbum criado com grande influência coletiva mas sem muitos recursos. Na época gastei mais da metade do meu salário para comprar um microfone ‘Audio Technica’
e, além disso, só eu tinha um notebook e uma guitarra. Com este equipamento, fui de residência em residência, da zona norte à zona sul de Aracaju, gravando vozes das pessoas e propondo um álbum de música Dub bem digital e produzindo tudo no FL Studio.
Q5 – Gabriel: Então na verdade você já tinha bastante influências de produção coletiva de música eletrônica em Aracaju?
Mombin: Sim, mas a principal diferença é que para o Dubaju estava produzindo aquelas pessoas, enquanto que na produção do Bruxa Cangaceira havia outras pessoas de fato envolvidas na produção. É por isso que cito o meu álbum mais recente – Bruxa Cangaceira – como exemplo de coletividade pois havia a influência de outras pessoas nas decisões que formaram o álbum, enquanto que no Dubaju não. Ainda assim, me recordo que no FASC (Festival de Arte de São Cristóvão) de 2017 ou 2018 a música produzida no cantinho da UFS (Universidade Federal de Sergipe) ‘Hit do Amor’, com vozes de Leticia da Paz e Isis Broken, foi cantada por centenas de pessoas. Além disso, tem a capa do álbum produzida pela artista ‘Corcca’ e que traz a referência da praia da Cinelândia onde, na época, o evento ‘Som de calçada’ estava a todo vapor.
Q7 – Gabriel: Ultimamente, quais projetos musicais você tem ouvido ou que você gostaria de recomendar?
Mombin: Tenho muita influência francesa nos meus DJ sets de acid techno e adoraria recomendar o ‘Blundetto’ um produtor dub/jazz francês com influências do mundo todo com cantores e cantoras da India, França e Brasil e com a banda de metais ‘The Budos Band’, ele produziu álbuns como ‘Bad Bad Things’ e ‘Good Good Things’.
Q9 – Gabriel: O que te traz inspiração criativa?
Mombin: O amor e o mar. O contato com o mar proporciona um sentimento muito especial de descarregar energias e te deixa preparado para criar, por esse motivo creio que sempre vou morar em cidades litorâneas. Enquanto isso, creio que a pessoa quando está amando – um amor de uma amizade ou romântico – ela se encontra em seu estado máximo de sensibilidade.
Q10 – Gabriel: Por fim, para você qual o poder de produzir Fora do Eixo rio-sp?
Mombin: O poder está em produzir pelo certo sem pensar na existência do eixo. A coisa mais poderosa de todas é quando você cria algo vivendo o momento, sem se levar em consideração as repercussões, registrando o agora nas suas criações.
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