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GABRIEL ARAGÃO ENTREVISTA DRY _ FORA DO EIXO

Written by on setembro 24, 2024

Q1 – Gabriel: Você se lembra quando começou a produzir música e, especificamente, música eletrônica? Em que época isso aconteceu?

Dry: Sim! O meu contato com música sempre foi muito presente pois minha mãe era cantora lírica, costumava me levar para os recitais e também fazia parte de uma banda. No caso de música eletrônica especificamente me lembro exatamente o momento em que decidi aprender a fazer remixes: eu tinha 12 ou 13 anos e estava em casa assistindo televisão quando passou na TV um vídeo oficial de remix de Selena Gomez, (Selena Gomez – Naturally [Dave Audé Club Mix]); foi nesse momento em que liguei o computador e procurei no Google “Como fazer remixes?” [risos] e logo em seguida baixei o Virtual DJ.

 

Q2 – Gabriel: Foi nesse momento que você começou a utilizar a interface de produção FL Studio? Quais programas você usava nas suas produções?    

DRY: Após baixar o Virtual DJ, depois de um tempo percebi que aquele programa não permitia a criação de música ali ‘do zero’ e que ele não era focado na produção de música em si. Entretanto, ainda assim produzi alguns remixes, que na verdade não eram exatamente remixes, utilizando o Virtual DJ. Esse processo consistia em juntar 4 tempos da de uma bateria característica de música eletrônica com todas as músicas que havia no meu computador para ver como ficaria o resultado. Logo em seguida, baixei o programa FL Studio e fiquei vendo tutoriais no Youtube de um brasileiro muito conhecido nessa época (por volta de 2010) na comunidade. Infelizmente não consigo lembrar do seu nome agora, mas tenho certeza que muita gente dessa época aprendeu com ele, lembro que ele era um produtor com referências do FreeStyle e essa foi a noção básica que aprendi quando comecei a produzir. 

 

Gabriel: Foi através de uma pessoa do Brasil produzindo no Youtube que, dentre os vários tutoriais, influenciou o seu início?

 

Dry: Sim, completamente, havia toda uma comunidade de uma galera que produzia nessa época no Youtube. Foi tudo ao mesmo tempo, logo em seguida já criei o meu Soundcloud e comecei a criar e publicar naquela conta com um que já não uso mais e eu cheguei a ficar “famosinha” com remixes de EDM (Electronic Dance Music) dentro daquela comunidade.

 

Q3 – Gabriel: Então tudo começou sendo DJ, como o Virtual DJ, e em seguida, evidentemente, você estava focado na produção, e se propôs a ir além apenas da mixagem? Nessa época, quais eram suas maiores referências nessa época? 

 

Dry: Eu acho que aprendi a mixar e também produzir ao mesmo tempo e isso influencia muito meu trabalho hoje em dia. Minhas referências dessa época eram complementamente Pop, na verdade Pop, EDM e Techno dos anos 90. Eu lembro que dos primeiros dois CDs que já ouvi na minha vida, um era da Britney Spears e o outro era um CD que minha mãe tinha, com a capa prateada, e eu chamava de “Músicas de Desfiles de Moda” de Techno dos anos 90, com sons melódicos mas um BPM mais acelerado. 

 

Q4 – O Soundcloud é uma comunidade que proporciona uma forma específica de se comunicar e lá é onde você interage há bastante tempo, não é? Qual foi o papel especificamente das comunidades (virtuais ou presenciais), tal qual o SoundClound, nas suas criações e processos criativos? 

 

Dry: Com certeza, existe uma comunicação, uma forma de linguagem muito específica, um tipo de humor específico para quem faz parte do Soundcloud como comunidade. A palavra comunidade se refere a dois processos muito importantes quando penso no meu processo de fazer música, a maior parte do meu tempo eu passava na frente do computador, e ainda passo até hoje, fazendo música e isso, por muito tempo na minha adolescências, foi uma válvula de escape para fugir da comunidade na qual eu estava inserida na vida real. Isso acabou se tornando uma outra coisa, porque quando associo esse processo ao “Poder Da Internet” *risos* consigo mostrar minha música para o mundo, e naquela época o mundo viu minha música mesmo. Eu não poderia mais ignorar o fato de que minhas músicas estavam sendo tocadas e minhas músicas estavam tendo downloads. Havia uma contagem de quantos downloads o seus remixes, era lá onde os DJs baixavam os remixes deles e eu sempre tava ali presente e havia os comentários que também eram muito importantes para mim no Soundcloud. Além disso, havia toda uma “máfia” nessa época, nesse nicho, de quem fazia remix de Pop e assim havia toda uma comunidade que fazia networking, como se fosse pessoalmente mas era tudo virtual. Esse senso de comunidade meio global, onde a música une as pessoas, foi muito importante porque foi aí que consegui ver que as pessoas ao meu redor não faziam ideia e não botaram fé em mim mas havia outra pessoas em outros lugares que botaram e que eu não era uma pessoa maluca por acreditar que eu poderia fazer o que eu estava fazendo. 

 

Q5 – Gabriel: Você tem várias colaborações e esse processo é sempre específico de pessoa para pessoa. Como funciona o processo de produção nesse contexto, para você?

 

Então, velho, esse é um processo que sempre muda, mas não é o meu processo preferido, não é o meu jeito preferido, eu gosto de fazer músicas só mesmo. De gostar? Gosto de fazer tudo sozinho, gosto de ter controle de tudo até porque tenho uma visão muito específica de som que quero ter e é muito proposital, tudo no meu som hoje em dia é muito proposital. Não tem uma assim: “Ah não sei… como fazer isso soar desse jeito.” Eu sei, porque já tenho embasamento teórico para fazer as coisas e quando produzo com alguém as pessoas tem um pouco de dificuldade de entender os meus propósitos. Para produzir com outra você precisa-se focar mais na comunicação do que na produção, em si, sabe? Porque o trabalho deixa de ser só produção, o trabalho se torna a comunicação e em como você está fazendo ela ser fluida ou não. A comunicação vai mudar a depender da pessoa então é sempre um processo diferente. E isso acaba sendo cansativo para mim, na real, porque como sempre será um processo diferente é preciso estar sempre me atentando a comunicação, e eu não sou a melhor pessoa de se comunicar, sou meio recluso. 

 

Gabriel: Isso é normal de pessoa para pessoa, e quando a gente fala da relação da comunidade com a criação, em geral, as pessoas bebem dessa fonte da influência e apoio da coletividade, mas cada um tem a sua produção individual. 


Dry: A música é muito sobre a subjetividade, né? Pelo menos para mim. Se a gente tá aqui fazendo uma parada e pode ser que você fale “ai, não gostei muito disso” mas esse item é muito importante para mim; mas ao mesmo tempo posso falar: “Ah, eu não gostei disso aqui” e esse outro item é muito importante para você por várias outras razões. Por isso falo muito sobre a comunicação, entende? Quando você fala que tenho muitas colaborações acabo me tocando que realmente tenho MUITAS colaborações sim, e estou aqui percebendo que talvez eu saiba me comunicar sim.*risos*

 

Q6 – Gabriel: Ainda falando sobre suas produções, recentemente ouvi bastante das suas músicas de 2023 e 2024, já havia ouvido outras mais antigas e notei o uso da sua própria voz além de outras vozes sampleadas. Nesse contexto, como funciona para produzir e cantar nas suas músicas? 

 

Dry: Essa é uma pergunta difícil e confesso que me perguntam bastante. Vamos lá: digamos que eu fiz uma música, certo? A música existe em várias linguagens e a gente consegue codificar, hoje em dia, quais tipos de linguagem vão impulsionar economicamente a sua música e, depois de entender isso, acho que o meu som ficou muito mais específico. Mas eu tenho a necessidade de fazer músicas, de fazer sons e eu acredito que minha criatividade é ilimitada nesse sentido, e eu agradeço muito por isso. Daí como a música vem como ferramenta de comunicação para mim, eu vou comunicar várias coisas diferentes, em momentos diferentes, usando elementos diferentes. As vezes sinto a necessidade e falo: “Porra, que saudade de cantar!”. Então, paro para fazer algo com a minha voz, se eu não conseguir fazer nada que envolva uma letra de música, então pego minha voz e utilizo como synth/sintetizador numa música de pista em que só eu vou saber daquilo ali. 

 

Gabriel: Literalmente falando várias línguas, não?

 

Dry: Sim, exatamente, acho que hoje isso está mais nichado e voltado para cena underground em são paulo por conta das possibilidades de impulsionamento econômico, porque você precisa ganhar dinheiro, né? Eu tento separar [as músicas] para ser mais consumível para pessoas entre Spotify e Soundcloud, por exemplo. No soundcloud, a música sai do meu computador direto para a página para manter essa sensação de comunidade, por isso tem tantas tracks lá, posto besteiras, posto músicas que são para ser besteiras e pelos próprios títulos são assim. Eu faço isso de um jeito que também consigo expressar emocionalmente também através dessas músicas. 

 

Q7 – Gabriel: Agora mudando um pouco de assunto e falando da ideia que originou o nome desse programa – Fora do Eixo – era justamente a questão de se estar fora do principal eixo econômico do país, em todos os aspectos, inclusive de produção artística e das condições materiais reais para existir, produzir e subsistir. Pensando nessa ideia, sei que você já tocou nesse assunto com a questão de transpor as fronteiras através de redes, como é para você desde o início estar em Sergipe produzindo?

 

Dry: Em Sergipe acontece uma coisa: para além da falta de acesso, a gente tem uma falta de interesse, socialmente a gente tem falta de interesse porque não é ensinado que construir arte é legal. Sergipe também é um dos estados do nordeste com maiores índices de crimes relacionados ao machismo e coisas desse tipo e então o estereótipo do cabra macho é muito forte e se estende para todas as pessoas. O que acontece é que existe um construto social muito cristalizado que sustenta a ideia de que se expressar não é bom, não permitido. Tendo isso em vista, fazer arte em Sergipe se torna economicamente inviável, arte em todos os sentido – a cultura. Assim, isso é simplesmente uma montanha grande demais para atravessar, sabe? Eu acho que meu tempo em Sergipe foi muito aprendizado de dentro para dentro, eu aprendi a fazer música, eu aprendi o que eu quero comunicar e as ferramentas necessárias. Assim, o tempo todo você se depara com a ideia de que “meu tempo está acabando, meu tempo está acabando e meu tempo está acabando”. Porque eu acho que o objetivo das pessoas nunca é o de precisar se mudar para conseguir trabalhar com a coisa que você quer trabalhar, mas em Sergipe é uma certeza. Quando fui falar com minha família que eu estava querendo fazer e viver disso, a primeira coisa que eu escutei era que não dava para fazer isso ali, “então, você vai ter que embora”, sabe? Tenho muito essa sensação. Daí, vir de Sergipe, especificamente, para outros lugares também é um babadão porque, por exemplo, a gente chega em São Paulo e numa roda de conversa: “Ah, você é de onde?”, “Ah, vim de Curitiba, e você veio de onde?” , “Sergipe? Ah! Onde é mesmo?”.

 

Gabriel: Eventualmente você acaba esbarrando nessas duas diferenças: o fato de que há bastante tempo é inviável se manter pura exclusivamente através de produções culturais; e também tem a outra questão de ter que se deslocar para outro lugar e sofrer certas violências que você não sofreria na sua casa de origem. 

 

Dry: Fazer/viver de música, e isso se estende para toda arte e cultura no geral, é muito frustrante porque você acaba percebendo que não é sobre isso que você está fazendo sua arte é sobre o networking que você é capaz de fazer. No final das contas parece que só vai para frente se você fizer essa rede/networking direto, e aí são várias linhas tênues. Você começa a perder um pouco da pessoalidade e as relações todas vão começando a ficar meio comerciais e você vai entender que o que você está fazendo é só por motivos comerciais. 

 

Q8 – Gabriel: No caso do Soundcloud, como é uma coisa mais social e menos voltada ao puro entretenimento, essa dimensão de relações mais próximas pode existir e acredito que seja o fortaleça a existência das comunidades naquele espaço. 

 

Dry: Com certeza, lá é muito mais próximo, sabe? Enquanto para publicar no Spotify preciso que a música esteja pronta, pelo menos, 1 mês antes, no Soundcloud é instantâneo. A questão é que no final, nenhum dos lugares (físicos) são exatamente o seu, se Sergipe fosse o meu lugar eu teria ficado, sabe? O Fato é que ninguém vai lhe dar o seu espaço, no final  temos que criar esse lugar.

 

Q9 – Gabriel: Quais têm sido suas preferências em termos de recursos hardware e software no seus processos de produção?

 

Dry: Eu uso FL Studio 12 uso a mesma versão desde o dia que eu baixei, prefiro o layout desse programa acho que dá para ver melhor. Uso pouquíssimos plugins e VSTs, uso muito o Nexus, que é a base da minha sonoridade, que é um vst que é emulador de vários som, da pra baixar mais sons também, vários sons do final dos anos 90 e início dos anos 2000. Sempre trago esse ele nas coisas que eu faço porque dá uma vibe muito nostálgica do som e meio caricata também, que é o que gosto de fazer, já que eu faço funk com outras coisas e ele gera essa  caricatice mais acessível. Também gosto muito de usar um reverb nativo do FL Studio que o “Fruity Reverb 2” para mim é um dos melhores reverb que existem, eu uso ele em literalmente tudo! Agora, falando de software de mixagem, vou falar uma coisa muito polêmica: “Rekordbox na cadeia, Virtual DJ é incrível” e é isso. A qualidade do som do virtual DJ é ruim? É ruim, mas o virtual DJ é bem melhor, queria que desse para passar as músicas lá! 

Q10 – Quais projetos musicais você tem ouvido, interagido, se interessado, dado play sem parar? 

 

Dry: Então eu sempre gostei muito de pop e tem ouvido muito pop ultimamente, porque todo final de semana saio para festa de música eletrônica, namorado uma pessoa que praticamente só ouve isso e todo mundo ao meu redor ouve isso. Assim, chega o momento que o meio ouvido pede “quero ouvir plástico!!”. Por exemplo, semana passada passei a semana inteira ouvindo Ariana Grande, eu gosto? Não gosto, mas enfim. Mas falando de referências, Sophie é minha maior referência sonora até hoje, não posso deixar de citá-la, não a ouço tanto assim pois sempre que eu a ouço me emociono. Além disso, DJ Negresco é uma grande referência para mim, acho que a forma que ele faz som é muito bafo. O DJ L7 também é grande referência, ele faz uns mandelões que são muito tristes e vazios, no sentido de que tem poucos elementos, são mais enxutos, o que dá espaço para melancolia trabalhar no subjetivo e é incrível assim, muito lindo! Tenho ouvido muito, mas não é uma novidade para mim, um rapaz coreano que encontrei por acaso chamado Flash Flood Darlings, especificamente o álbum Vorab and Tesoro de 2016. Não tenho informação nenhuma sobre ele, não sei nem se ele está vivo pois ele não posta nada a muitos anos e gostaria de saber o que aconteceu pois acho a música dele incrível. Esse som me inspira muito porque dá pra ver que não tem nada muito elaborado e é uma música de quarto que o contexto da voz tem a voz dele é meio techno cantado e permeia temas que sugerem sobre ser uma experiência LGBT na Coreia. 

 

Q11 – Qual é o poder de produzir Fora do Eixo, para você?

 

Dry: O poder de produzir fora do eixo está em mostrar para as pessoas algo que elas gostam mas elas nem sabem ainda que elas gostam.

 

Contatos Dry:

no instagram @dryzinh4

soundcloud.com/dryzinh4

 


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